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domingo, 18 de julho de 2010

terça-feira, 13 de julho de 2010

quarta-feira, 7 de julho de 2010

sábado, 3 de julho de 2010

terça-feira, 13 de abril de 2010

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

A História repete-se?...


"Um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas; um povo em catalepsia ambulante, não se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta.
Uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não descriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política portuguesa sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis no Limoeiro.
Um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País.
A justiça ao arbítrio da Política,torcendo-lhe a vara ao ponto de fazer dela saca-rolhas.
Dois partidos sem ideias, sem planos, sem convicções,incapazes, vivendo ambos do mesmo utilitarismo céptico e pervertido, análogos nas palavras, idênticos nos actos, iguais um ao outro como duas metades do mesmo zero, e não se malgando e fundindo, apesar disso, pela razão que alguém deu no parlamento, de não caberem todos duma vez na mesma sala de jantar.

«Guerra Junqueiro, 1896».

repita Comigo: Não Vou Reclamar do Meu trabalho !





































terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Há Professores e EDUCADORES



História 1ª:
Num colégio do Porto estava a acontecer uma coisa muito fora do comum.
Um "bando" de miúdas de 12 anos andava a pôr batom nos lábios, todos os dias, e para remover o excesso beijavam o espelho da casa de banho.
O Cons.Exec. andava bastante preocupado, porque a funcionária da limpeza tinha um trabalho enorme para limpar o espelho ao fim do dia e no dia seguinte lá estavam outra vez as marcas de batom.

Um dia, um professor juntou as miúdas e a funcionária na casa de banho e explicou que era muito complicado limpar o espelho com todas aquelas marcas que elas faziam e, para demonstrar a dificuldade, pediu à empregada para mostrar como é que ela fazia para limpar o espelho.
A empregada pegou numa "esfregona", molhou-a na sanita e passou-a repetidamente no espelho até as marcas desaparecerem.
Nunca mais houve marcas no espelho...
Há Professores e Educadores...

História 2ª:
Numa dada noite, três estudantes universitários beberam até altas horas e não estudaram para o teste do dia seguinte.
Na manhã seguinte, desenharam um plano para se safarem. Sujaram-se da pior maneira possível, com cinza, areia e lixo. Então, foram ter com o professor da cadeira e disseram que tinham ido a um casamento na noite anterior e no seu regresso um pneu do carro que conduziam rebentou.
Tiveram que empurrar o carro todo o caminho e portanto não estavam em condições de fazer aquele teste.
O professor, que era uma pessoa justa, disse-lhes que fariam um teste-substituição dentro de três dias, e que para esse não havia desculpas. Eles afirmaram que isso não seria problema e que estariam preparados.
No terceiro dia, apresentaram-se para o teste e o professor disse-lhes com ar compenetrado que, como aquele era um teste sob condições especiais, os três teriam que o fazer em salas diferentes.
Os três, dado que tinham estudado bem e estavam preparados, concordaram de imediato.
O teste tinha 6 perguntas e a cotação de 20 valores.
Q .1. Escreva o seu nome ----- ( 0.5 valores)
Q.2. Escreva o nome da noiva e do noivo do casamento a que foste há quatro dias atrás ---(5 valores )
Q.3. Que tipo de carro conduziam cujo pneu rebentou.--( 5 valores)
Q.4 . Qual das 4 rodas rebentou ------- ( 5 valores )
Q.5. Qual era a marca da roda que rebentou ---- (2 valores)
Q.6. Quem ia a conduzir? ------ (2.5 valores)

Há Professores e Educadores...

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Ser Feliz ou Ter Razão...Para Reflexão...


Oito da noite, numa avenida movimentada, o casal já está atrasado para jantar na casa de uns amigos. O endereço é novo e ela consultou o mapa antes de sair. Ele conduz o carro. Ela orienta e pede para que vire, na próxima rua, à esquerda. Ele tem certeza de que é à direita. Discutem. Percebendo que além de atrasados, poderiam ficar mal-humorados, ela deixa que ele decida. Ele vira à direita e percebe, então, que estava errado. Embora com dificuldade, admite que insistiu no caminho errado, enquanto faz o retorno. Ela sorri e diz que não há nenhum problema se chegarem alguns minutos atrasados. Mas ele ainda quer saber:
- Se tinhas tanta certeza de que eu estava indo pelo caminho errado, devias ter insistido um pouco mais...
E ela diz:
- Entre ter razão e ser feliz, prefiro ser feliz. Estávamos à beira de uma discussão e se eu insistisse mais, teríamos estragado a noite!

MORAL DA HISTÓRIA:
Esta pequena história foi contada por uma empresária, durante uma palestra sobre simplicidade no mundo do trabalho. Ela usou a cena para ilustrar quanta energia nós gastamos apenas para demonstrar que temos razão, independentemente, de tê-la ou não. Desde que ouvi esta história, tenho me perguntado com mais freqüência: 'Quero ser feliz ou ter razão?' Outro pensamento parecido, diz o seguinte: 'Nunca se justifique. Os amigos não precisam e os inimigos não acreditam. Passe esta mensagem aos seus amigos, para ver se o mundo melhora...
Eu já decidi... EU QUERO SER FELIZ e você?

E lembre-se: "Nunca se justifique (ou peça desculpa). Os amigos não precisam e os que o não são, não acreditam."

E deixe que lhe diga mais uma «coisinha». Se alguém que considera como amigo persiste em não aceitar o seu «erro», está perante uma das duas coisas: ou esse seu amigo é uma daquelas pessoas «infalíveis», ou então...é isso mesmo que está a pensar - não é tão seu amigo quanto você pensava.

Pessoalmente, venho a aplicar esta regra desde há muitos anos (às vezes até passo umas «rasteirinhas» (só para efeitos de «teste»), e devo dizer-lhe que dá um resultadão, para além de ser lógico e formar sentido. Ora faça o favor de «Ser Feliz».

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Sê Tu...


Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim, em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.



Fernando Pessoa

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Little Johnny



A vida é demasiado curta - Por que não experimentar e viver a cada segundo ...



Um sujeito está andando na rua e vê o Pequeno Johnny a fumar um cigarro.
Impressionado com tal situação ele diz:
-MAS O QUE É ISSO??? VOCÊ AINDA É UMA CRIANÇA… NÃO PODE FUMAR!
Johnny olha para cima mas não diz nada.
O homem ainda perplexo com a situação, pergunta:
"Filho, quantos anos você tem?"
O pequeno Johnny responde: "Seis."
Atordoado, o homem diz: "Seis!? Mas isto não pode ser… Você é muito pequeno ainda…
Quando você começou a fumar?"
Johnny responde:
"Logo após a primeira vez que fiz sexo".
O QUÊ?????
"Logo após ter feito sexo? Mas quando foi isso?"
Little Johnny responde:

"Já não me lembro. Estava bêbado".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Vistas de Dentro


Pai Américo foi um semeador de sonhos. Tomou cada um e pôs na vida de cada dia. Sonhos reais e de bem.

Viemos os padres da Obra e, deslumbrados, agarramos os sonhos!

Somente lhes daremos vida a partir da nossa fraternidade, comunhão de vida, amor e união fraterna.

Se assim não for - os sonhos vão estiolar...

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Nossa Obra da Rua é um Horto - cominudade-família. Nossas Casas são canteiros com rapazes - plantas e flores.

Deixemos que o Senhor as cuide.

O Seu sol!

A Sua chuva!

Deixa só...

Não se vê subir a seiva, nem se sente o beijo do sol pela manhã - invisíveis, mas presentes!

Fica quietinho - quebra teu caco. O Senhor está!

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Comunidade-família é o lugar onde descobrimos e amamos o rosto dos irmãos. Temos o mesmo Pai - «Pai nosso!»

«O rosto do outro tem que tornar-se preciosos aos nossos olhos.»

Pelo sentido de pertença, conversão, empenho, correcção fraterna, diálogo, esperança na mudança e formação do coração.

Sejamos construtores de famílias.

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No passado fim-de-semana foi o encontro dos nossos de África. Lá estiveram oito dos dez que, em 1963, começámos a nossa Casa de Malange. É sempre bom, muita alegria!

Todos têm filhos, alguns já netos. É um reviver contagiante de todos os nossos momentos duros e gratificantes da fundação da nossa Casa - família Malanjina.



Padre Telmo in «O Gaiato» Nº 1709 de 12 de Setembro, 2009

domingo, 25 de outubro de 2009

Mudança de hora



Entrou esta madrugada em vigor o horário de Inverno, que se prolongará até Março de 2010.


Assim, quando eram 02:00, os ponteiros do relógio voltaram para a 01:00.


Este é o dia mais longo do ano, com 25 horas...


Será que chegam para os mais ocupados?

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

O Bem Estar da Solidão


«Nenhum servo pode servir a 2 senhores;

ou há-de aborrecer a um e amar o outro,

ou dedicar-se a um e desprezar o outro.

Não podeis servir a Deus e ao dinheiro»

Lucas 16:13


A solidão é uma realidade. A realidade. A vida é uma série de separações, de pequenas mortes.
A maioria das pessoas confunde solidão com isolamento.
O isolamento consiste em se estar fisicamente só – pertence ao mundo externo.
A solidão vem de dentro de nós.
Ninguém pode substituir o colo da Mãe.
Eu amo os velhos.
Um ancião consciente vive para afastar-se das coisas do mundo.
Muitos seres humanos vivem para diminuir o sofrimento.. Não para crescer.
O que é o tempo? Existe verdadeiramente?
A capacidade de estar só conquista-se tomando consciência dos estados de alma, das suas sensações e dos seus sentimentos.
Estar só desenvolve a fantasia. A fantasia torna-se o refúgio para a infelicidade.
Em todos nós existem a fantasia e a imaginação. A fantasia é terapia.

Moura - Onde se fazia azeite, mulher não entrava


«Azeitona,

que o sustento nos vens dar

os alegres passarinhos

com os seus biquinhos

a querem levar»

(Da Moda Alentejana: «Levantou-se o Povo inteiro»)


A casa grande é de um só compartimento. Um longo corredor. Ao fundo duas enormes alavancas, criadas com traves de madeira. Correndo todo o corredor, as tulhas, pequenos compartimentos de alvenaria, para armazenar a azeitona. O Lagar de Varas do Fojo, em Moura, hoje museu, conta uma história antiga. No decurso de um século ganhou vida a cada Outono, na época da apanha da azeitona.

As oliveiras salpicam a extensa planície do baixo Alentejo. A árvore de pequeno porte oferece sombra sob o quente verão; um repouso entre uma tarefa e outra na manutenção do campo. As oliveiras resistem a mais um estio. Nas ramadas o seu fruto, a azeitona, amadurece lentamente. Por agora os lagares estão vazios. O dia-a-dia no campo faz-se, entre outras actividades, com a apanha do melão. Quando o Outono começar a despertar, então os campos de oliveiras enchem-se de gente na apanha da azeitona. Então, com a lua ainda reinante, ruma-se ao olival. O dia vai ser longo e duro. Estendem-se as redes sob as oliveiras. Bate-se com varas nos ramos para o fruto, que dá origem ao azeite, ir ao chão. Pausas só mesmo para saciar a fome com o farnel preparado no serão anterior. Quando a noite voltar a cair, faz-se o regresso a casa. O processo repete-se dia após dia. Embora a mecanização seja já uma presença significativa nas produções olivícolas, há muitos produtores que continuam a recorrer à mão humana. O cenário descrito continua, pois, a ser uma realidade em terras do Alentejo, permitindo a subsistência de muitas famílias. Ao labor no campo seguir-se-á a actividade no lagar, etapa que concretiza a azeitona no fio de ouro que é o azeite.

Um processo que, em Moura, é explicado no Lagar de Varas de Fojo, convertido em museu desde 2001. A vida no lagare entre 1810 e 1941 cada Outono trazia um sopro de agitação ao Lagar de Varas de Fojo. Actualmente, o imóvel considerado de Interesse Público, guarda intactos os artefactos que contam histórias antigas. Estes falam-nos de trabalho árduo; um lugar onde as mulheres não tinham entrada. A aldeia de outrora cresceu e o Lagar de Varas do Fojo, antes em meio rural, localiza-se hoje numa avenida movimentada, dando acesso ao centro da cidade de Moura.

Recuemos no tempo até ao lagar do século XIX, início do século XX. Com os primeiros carregamentos de azeitona desde os campos, a actividade passa a fazer-se entre paredes, no lagar. Cada produtor de azeitona tinha uma tulha, identificada com o seu nome e um número, para armazenar a azeitona. O Lagar era espaço comunitário, tendo o dono, direito a uma percentagem da produção como meio de pagamento pela utilização da estrutura.

Das tulhas onde eram depositadas, as azeitonas passavam para a moenda. Esta fase servia para pisar a azeitona até se transformar numa pasta. O fruto da oliveira era depositado numa estrutura redonda, fazendo lembrar um poço, mas com fundo à vista. Três grandes pedras cilíndricas, como as rodas de um veículo, giravam, moendo a azeitona, puxadas pela força no burro. Este era o único processo onde o esforço não saía de braço humano.

Da moenda, a pasta de azeitona passava para a enseirada, onde se encontram as varas que dão nome ao lagar. As imponentes varas funcionam como alavancas, quando os homens fazem girar os parafusos que se encontram numa das extremidades. «Após o enchimento das seiras, ou enseiramento, com a massa de azeitona, o lagareiro sobrepunha um conjunto de seiras sobre o estrado da prensa a que se dá o nome de algués. Sobre as seiras ainda se colocava a porta e os malhais, sobre os quais iria assentar a extremidade mais pesada da vara», explica Isabel Costa, guia do museu.

Conta-nos a mesma responsável: «quando a extremidade oposta ao fuso baixa, exerce pressão sobre as seiras, fazendo-as libertar azeite e água-ruça.Depois de escorridas as seiras, a vara subia novamente para que se pudesse proceder à caldeação».

Deitava sobre as seiras água aquecida na caldeira. O azeite e a água-ruça tinham caído para as tarefas. Aqui, ao entrar a água, ia permitir que o azeite se separasse da água-ruça. O processo era de extrema importância, pois era nesta fase que se definia grande parte da qualidade do produto.

«À tarefa para onde vai só o azeite dá-se o nome de tesoiro, ou pilão. O azeite era retirado daí para outros recipientes, pelo lagareiro, com o auxílio de uma concha», comenta Isabel Costa.

No Lagar de Varas do Fojo a viagem no tempo em torno do azeite faz-se não só pela presença dos instrumentos de transformação da azeitona, mas também pela mostra dos utensílios utilizados no campo, como as cestas de transporte do fruto. O núcleo museulógico expõe fotografias antigas que revelam expressões inseridas em momentos de trabalho de uma vida rural que, em certa medida, ainda podemos encontrar nos dias de hoje.


Nota: para mais detalhes numa «viagem» pelo nosso Alentejo, veja aqui: alentejo

terça-feira, 6 de outubro de 2009

A Sabedoria da Idade


A «sabedoria da idade»... «vira fenómeno mediático» em Vila Franca da Beira.

Em Vila Franca da Beira, a participação da mais idosa candidata do país nas eleições autárquicas, virou fenómeno mediático.
Faz 97 anos no próximo dia 18 de Novembro e é a candidata com mais idade a aparecer nestas eleições autárquicas. Chama-se Teresa Lopes, e tem a particularidade de residir em Vila Franca da Beira e de ser a progenitora do candidato com que o PS concorre à Assembleia Municipal, António Lopes, nas eleições autárquicas do próximo dia 11 de Outubro.


Simbolicamente colocada no último lugar da lista com que o PS concorre à Assembleia de Freguesia de Vila Franca da Beira, Teresa Lopes pode ter problemas de visão e até de locomoção. Papas na língua é que não tem… (ver Vídeo)
“Estou muito velhinha mas a minha língua ainda está boa”, disse aquela nonagenária a um jornalista do Diário das Beiras, não se furtando a explicar – muito espontaneamente – as razões que a motivaram a candidatar-se pela primeira vez a umas eleições.

Esta mãe de oito filhos, com 20 netos, 32 bisnetos e um tetraneto, já comeu o “pão que o Diabo amassou”, e não se cansa de agradecer às gentes de Vila Franca da Beira o acolhimento que teve quando veio viver para a terra “muito pobrezinha, descalça, com os meus mal enroupados”… “Foi uma gente muito generosa”, sublinha.
Teresa Lopes não esconde o facto de ter entrado nesta luta política pela mão do filho – António Lopes. “Apesar da minha idade, faço um bocadinho de sacrifício e até fechar os olhos farei tudo para o ajudar", conta.

A sua “performance” política aos 97 anos de idade, tem vindo a despertar a curiosidade de muitos jornalistas e, nos últimos tempos, Teresa Lopes até já teve que declinar, por exemplo, um convite para estar presente no célebre programa do Goucha na TVI.
A SIC também se interessou pela história, e o repórter daquela estação de televisão que se deslocou à aldeia de Vila Franca da Beira, não conseguiu conter um sorriso com uma tirada da candidata… sempre com as palavras na ponta da língua. “Olhe, não sei se o senhor é bonito se é feio”, respondeu Teresa Lopes, dando conta dos seus problemas de visão.
Instada pelo mesmo jornalista a explicar esta sua entrada na política, a agora nonagenária mais famosa de Vila Franca da Beira, foi telegráfica: “é para dar o exemplo a todas as velhas de 97 anos desta país”, respondeu.

E em jeito de «remate» não se furtou a dar a sua opinião sobre «os Governos», dizendo: « Os Governos p'ra mim nem são bons, nem são maus, fazem o que podem...»

Finaliza com uma frase que expressa bem a «sabedoria da idade» : »...talvez alguns sejam tão analfabetos, ou quase, como eu !»

Entretanto, e como nem só no Entroncamento há fenómenos, a pacata aldeia de Vila Franca da Beira tem sido “invadida” por alguns dos mais importantes órgãos de comunicação social do país, como o Expresso, a RTP 1, ou a Lusa… e até a TV Globo, que passou a reportagem no Brasil, ou os Gato Fedorento que também já fizeram humor com o caso.
Um «exemplo de Vida Viva», a seguir !
















segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Diálogo Com a Morte


«Os que vão morrer ensinam-nos a viver»

A morte foi sempre um tema que, não sei bem porquê, desde muito jovem, me fascinou.
Tendo lido recentemente o livro «Diálogo Com a Morte», onde a sua autora Maria de Hennezel, de nacionalidade francesa, procura transmitir-nos a sua mensagem de que «Os que vão morrer ensinam-nos a viver», acicatou ainda mais o meu interesse por este assunto. Em boa hora, diga-se, o fiz, pela relação que o mesmo tem com a minha actual função no Hospital Garcia de Orta e pelos conhecimentos que me permitiu adquirir sobre este assunto tão importante.
Foi assim que, após a sua leitura e uma reflexão sobre as mui importantes ideias e conceitos nele expostos, achei que deveria partilhá-los, ainda que num breve resumo, fazendo dele a minha base de trabalho que entretanto me foi requerido...
Aponta a autora como razão principal que a levou a escrever este livro, fruto da sua experiência como psicóloga junto dos doentes terminais que, «a sociedade ocidental precisa de rever as suas atitudes perante a morte, abandonando o medo e aceitando-a como uma fase do processo de vida».
É na verdade muito importante respeitar a dignidade daqueles que se aproximam da morte, fazendo-os sentir seres humanos até ao fim, evitando que, por desespero, «queiram abreviar os últimos momentos que têm para partilhar a sua experiência e exigir um encontro significativo com o outro».
Questões muito importantes se levantaram então na minha mente:
·É a forma de relacionamento com os que vão partir importante?
·Que dizer?
·Como escutar?
·Que transformações profundas nos ocorrem na eminência da morte?
·Durante a nossa última caminhada espiritual deve-se recorrer a mentiras piedosas?
·A morte é triste?
·Como morrer?

Medito e questiono-me:
- Porque vivemos num mundo aterrado por estas interrogações, e que lhe vira as costas? Com que medo ou receio? Se é um facto reconhecido que, antes da nossa, houveram civilizações que encararam a morte de frente, traçando para a comunidade e para cada um caminho de passagem?!
Nunca, no meu entender, a relação com a morte terá sido tão pobre como nestes tempos de aridez espiritual em que os homens, na pressa de existir, parecem sofismar o mistério, ignorando que desse modo, secam uma fonte essencial do gosto de viver. Pois se até é a única certeza que temos!...
Embarcar nesta aventura quotidiana da descoberta do outro, o compromisso do amor e da compaixão, a coragem dos gestos de ternura para com esses corpos alterados (como amanhã serão os nossos), nesse poder de eliminar a angústia, de instaurar a paz, sobre a transformação profunda que se observa em certos seres à beira da morte, é na verdade, uma tarefa gigantesca!
É nesse momento de maior solidão, em que o corpo se encontra debruçado à beira do infinito, que se estabelece um outro tempo fora das medidas habituais. Por vezes, no espaço de dias, graças à ajuda de uma presença que permite que o desespero e a dor se exprimam, os doentes entendem a sua própria vida, apropriam-se dela, manifestam a sua verdade. Descobrem a liberdade de aderir a si próprios. É como se, na altura em que tudo finda, tudo se libertasse por fim, do amontoado das penas e das ilusões que impedem de nos pertencermos. O mistério de existir e de morrer não fica de modo algum esclarecido, mas é plenamente vida.
E outras perguntas me ocorrem à mente:
* Será que a proximidade da morte pode fazer com que uma pessoa se torne naquilo para que foi chamada a ser, isto é, uma realização?
* Não haverá no homem uma parte de eternidade, algo que a morte gera, faz nascer algures?
Quando, com a certa altura nos é referido pela autora, um doente, no seu lado de paralítico, imobilizado, nos transmite a sua «última mensagem» dizendo: «Não creio nem num Deus de justiça, nem num Deus de amor. É demasiado humano para ser verdadeiro. Que falta de imaginação! Mas isso não me leva a crer que sejamos apenas reduzíveis a uma faixa de átomos. O que implica que existe algo além da matéria, chamemos-lhe alma ou espírito ou consciência, o que se quiser. Eu creio nessa eternidade. Reencarnação ou o acesso a um outro nível totalmente diferente…

Quem morrer verá!» - que lição procura deixar-nos?


Que sente o corpo dominado pelo espírito, a angústia vencida pela confiança, a plenitude do destino cumprido?


Que bela lição de vida! Que fortíssima densidade humana está nele contida!
Como morrer?

Se existe uma resposta, poucos testemunhos a poderão inspirar com tanta energia como os que encontrei descritos nesta obra. A morte não deve ser escondida, como se fosse vergonhosa e suja. Vemos nela apenas horror, absurdo, sofrimento inútil e penoso, o que no meu entender é um erro. Deixo à vossa reflexão.


Anabela Moisaão - Ano 2005

sábado, 26 de setembro de 2009

A «Flor do Campo»...


- Uma flor que abriu em Maio
Se bem abriu, bem fechou...
Uma flor que eu tanto amava
gabou-se que me deixou... –



Era uma dessas manhãs ridentes de Maio, sem que uma aragem suava fizesse tremular a leve folha do álamo. O sol parecia querer mostrar toda a beleza do seu fulgor, mas não tinha forças para rasgar essa cortina feita de trevas, que lentamente se dissipava... Tudo era lindo ! A opulenta Primavera, a mais linda estação do ano, abria as portas do seu guarda roupa, e mostrava-me as mais variadas cores do seu vestido. Após uma leve refeição, pus-me à janela, seguindo com o olhar a maravilhosa Natureza que ali se me oferecia.
O movimento campesino veio despertar-me da letargia em que estava mergulhado; de vez em quando, fazia-se ouvir o latido dos cães nos casais vizinhos, e chegava até mim a saudade, a dor e o remorso...
Um jacto passou bem alto, desenhando no espaço, uma das letras alfabéticas: - um «M».
A mais cruciante dor me cobriu de tristeza, e nos meus olhos apareceram duas lágrimas, que encerravam um passado bem triste: Maria !
Conheci-a no campo, quando ela pura e linda como a luz deste alvor que acabo de contemplar.
Vinha do moinho quando passei por ela, de cartucheira na cinta, e a arma pronta a alvejar qualquer peça de caça que me aparecesse.
Sorrimos os dois, e após um galanteio trocámos algumas palavras de amor, desse amor tão puro como a pureza da alma dessa mulher.
Todos os dias continuava a minha ronda, fingindo caçar e não mais abandonei aquele moinho que me parecia uma sentinela vigilante do nosso amor...

Um dia, no cimo de um outeiro, beijámo-nos pela primeira vez, para que a verdejante campina fosse a verdadeira testemunha do nosso primeiro beijo, e dentre a inúmera quantidade de flores, só os malmequeres pareciam dizer qualquer coisa:
Malmequer criado no campo
delírio da mocidade...
Pelas tuas brancas folhas
malmequer diz-me a verdade...

A continuação dos nossos encontros, fazia nascer dentro dos nossos peitos um amor de Romeu e Julieta, e toda a minha ambição era entrar no moinho.
Certo dia, entrei: Sim, entrei, mas antes o moinho tivesse caído, para matar a peçonha deste grande pecador.
Desse encontro de amor, nasceu o fruto do pecado: uma filha – « A Flor do Campo ».

Um dia a Pátria chamou-me para cumprir o meu dever, e as terras de além-mar, aguardavam com ansiedade os soldados vigilantes.
Depressa me esqueci dessa linda camponesa que se deixou morrer vendo no seu sedutor o maior dos traidores...

Outra mulher veio ocupar no meu coração, o lugar daquela que tinha ficado no moinho, acariciando o fruto do seu puro amor, e duma vil traição.
Alguns meses depois, recebo uma carta de Maria, dizendo:

Luis

São estas as últimas linhas que te escrevo; sinto que a morte se aproxima a passos gigantescos ! Nada quero de ti, como nada me poderias já fazer. Não quero partir para a minha última viagem, sem te pedir que não vejas na minha filha, a filha de uma mulher qualquer. Por mim estás perdoado de todo o mal que me fizeste, mas peço-te que veles pela nossa filha, que lhe dês um nome digno dela, e que sejas melhor para ela do que fostes para mim. Vela por essa inocente, que eu morro confiando no meu pedido.
Maria

Agora, sempre que a Primavera volta, eu choro baixinho... enquanto vou entoando a moda com que eu a costumava enlevar:

Com que letra se escreve... Maria
Com que letra se escreve gratidão
Com que letra se escreve lealdade
Com que letra se escreve...coração...


Luis – 2001-04-04

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

Levantado do Chão


Todos os dias têm a sua história, um só minuto levaria anos a contar, o mínimo gesto, o descasque miudinho de uma palavra, duma sílaba, dum som, para já não falar dos pensamentos, que é coisa de muito estofo, pensar no que se pensa, ou pensou, ou está pensando, e que pensamento é esse que pensa o outro pensamento, não acabaríamos nunca mais.

Melhor é declarar que estes anos de João Mau Tempo vão ser os da sua educação profissional, no sentido tradicional e campestre de que um homem de trabalho tem de saber de tudo, tão bom para ceifar como para tirar cortiça, tão destro a valar como a semear, tão de bom lombo para carregar como de rins para cavar. Este saber transmite-se nas gerações se exame nem discussão, é assim porque sempre assim foi, isto é uma enxada de gaviões, isto uma gadanha, e isto uma gota de suor. Ou cuspo branco espesso em tarde de fornalha, ou pancada de sol em cima da ganacha (cabeça), ou jarretes desfalecidos de pouco alimento. Entre os dez anos e os vinte há que aprender tudo e depressa, ou não teremos patrão que nos aceite…
… Ajustou-se para estes patrões Joaquim Carranca, ficando João Mau Tempo a trabalhar à jorna. Tudo junto era uma ridicularia, dava, se dava, para não gemerem de fome constante, e se alguma conveniência ali se achava, era estarem reunidos e terem o benefício de umas hortas para poderem castigar o corpo em domingos e dias santos. Pelo tarde deste período era a soldada de Joaquim Carranca de sessenta quilos de farinha de milho, cem escudos, três litros de azeite, cinco litros de feijão frade, casa e lenhas, e ao fim do ano uma gorjeta consoante. Quanto à soldada dos mais novos, cifrava-se em quarenta quilos de farinha de milho, litro e meio de azeite, três litros de feijão frade e cinquenta escudos.

Era assim mês por mês. Levavam os sacos e saquitéis (saquinhos) até às tulhas, a bilha à adega, media o feitor os víveres, pagava o patrão de escala o numerário, e com isto se haviam de governar os corpos e repor forças onde todos os dias se gastavam. Porém, claro está que nem todas elas se restabeleciam, não queriam mais nada, além de ser fatal que o tempo, passando, faça suas destruições, e daí que as caveiras em demasia se mostrassem por debaixo da pele, para isto se nasce… (Pág. 61)

Depois da terra, a primeira coisa de que Lamberto precisa é de um feitor. O feitor é o chicote que mete na ordem a canzoada. É um cão escolhido entre os cães para morder os cães. Convém que seja cão para conhecer as manhas e as defesas dos cães. Não se vai buscar um feitor aos filhos de Norberto. Alberto é Humberto, feitor é primeiro criado, com privilégios e benesses na proporção do excesso de trabalho que for capaz de arrancar à canzoada. Mas é um criado. Está colocado entre os primeiros e os últimos, é uma espécie de mula humana, uma aberração, um judas, o que traiu os seus semelhantes a troco de mais poder e de algum pão de sobra.
A grande e decisiva arma é a ignorância. É bom, dizia Sigisberto no seu jantar de aniversário, que eles nada saibam, nem ler, nem escrever, nem contar, nem pensar, que considerem e aceitem que o mundo não pode ser mudado, que este mundo é o único possível, tal como está, que só depois de morrer haverá paraíso, o padre Agamedes que explique isso melhor, e que só o trabalho dá dignidade e dinheiro, porém não têm de achar que eu ganho mais do que eles , a terra é minha, quando chega o dia de pagar impostos e contribuições, não é a eles que eu vou pedir dinheiro emprestado, que aliás sempre foi assim, e será, se não for eu a dar-lhes trabalho, quem o dará, eu e eles, eu que sou a terra, eles que o trabalho são, o que for bom para mim, bom para eles é, foi Deus que assim quis as coisas, o padre Agamedes que explique melhor, em palavras simples que não façam mais confusão à confusão que têm na cabeça, e se o padre não for suficiente, pede-se aí à guarda que dê um passeio a cavalo pelas aldeias, só a mostrar-se, é um recado que eles entendem sem dificuldade.

Mas diga-me, senhora mãe, bate também a guarda nos donos do latifúndio? Credo, que esta criança não regula bem da cabeça, onde é que tal se viu, a guarda, eu filho, foi criada e sustentada para bater no povo.
Como é possível, mãe, então faz-se um guarda só para bater no povo, e que faz o povo? O povo não tem quem bata no dono do latifúndio que manda a guarda bater no povo. Mas eu acho que o povo podia pedir à guarda que batesse no dono do latifúndio. Bem digo eu, Maria, que esta criança não está em seu juízo, não a deixes andar por aí a dizer estas coisas, que ainda temos trabalhos com a guarda.
O povo fez-se para viver sujo e esfomeado. Um povo que se lava é um povo que não trabalha, talvez nas cidades, enfim, não digo que não, mas aqui, no latifúndio, vai contratado por três ou quatro semanas para longe de casa, e meses até, se assim convier a Alberto, e é ponto de honra e de homem que durante todo o tempo de contrato não se lave nem cara nem mãos, nem a barba se corte. E se o fizer, hipótese ingénua de tão improvável, pode contar com a troça dos patrões e dos próprios companheiros. É esse o luxo da época, gloriarem-se os sofredores do seu sofrimento, os escravos da escravidão. É preciso que este bicho da terra seja bicho mesmo, que manhã some a remela da noite à remela das noites, que o sujo das mãos, da cara, dos sovacos, das virilhas, dos pés, do buraco do corpo, seja o halo glorioso do trabalho no latifúndio, é preciso que o homem esteja abaixo do animal, que esse, para se limpar, lambe-se, é preciso que o homem se degrade para que não se respeite a si próprio nem aos seus próximos.
E mais. Gabam-se os trabalhadores das pontadas que apanharam nos trabalhos da arroteia. cada uma delas é medalha para vanglórias de taberna, entre o casco e o copo. Já apanhei tantas ou tantas pontadas a arrotear para Berto e Humberto. Estes é que eram os trabalhadores bons, os que, em tempo de chicote, mostrariam envaidecidos os vergões encarnados, e se sangrarem melhor ainda, gabarolas iguais ao rebotalho das cidades que presumiam de virilidade tanto maior quantos mais cavalos duros ou cancros moles adquirissem no comércio da cama alugada.

Ah, o povo conservado na banha ou no mel da ignorância, que nunca te faltaram ofensores. E trabalha, mata-te a trabalhar, rebenta se for preciso, que assim deixarás boa lembrança no feitor e no patrão, ai de ti se ganhas fama de malandro, nunca mais tens quem te queira. Podes ir pôr-te às portas das tabernas, com os teus companheiros de desfortuna, eles próprios te hão-de desprezar, e o feitor, ou o patrão, se lhe deu para isso, olhará para ti com nojo e tu só ficarás sem trabalho, para aprenderes. Que os outros decoraram a lição, vão matar-se todos os dias no latifúndio, e quando tu chegares a casa, e casa isso é, com que cara vais dizer que não arranjaste trabalho, que os outros sim, mas tu não. Emenda-te, se ainda vais a tempo, jura que já tiveste vinte pontadas, crucifica-te, estende o braço para a sangria, abre as veias e diz: este é o meu sangue, bebei, esta é a minha carne, comei, esta é a minha vida, tomai-a, com a bênção da igreja, a continência à bandeira, o desfile das tropas, a entrega das credenciais, o diploma da universidade, façam-se em mim as vossas vontades, assim na terra como nos céus… (Pág.74)

Os homens vão trabalhar para longe, onde se pode ganhar mais algum dinheiro. No fundo, são todos malteses, andam por aqui e por ali, e voltam a casa semanas ou meses depois para fazer outro filho. Entretanto, nas arroteias de carvalheira, por conta dos seareiros, cada pingo de suor é uma gota de sangue perdida, e os desgraçados todo o santo dia penando e às vezes de noite, contam-se as horas de trabalho pelos dedos de três mãos, quando não se tem de ir à quarta mão da besta enumerar o que falta, não se lhes enxuga a roupa no corpo durante toda a quinzena. Para descansar, se tal verbo tem cabimento, deitam-se numa cama de carqueja com palha por cima, e pela noite fora gemem, sujos, pisados, assim não vale, não se pode acreditar no padre Agamedes que vem do seu almoço dominical em casa de Floriberto, e bom almoço foi, como se comprova pelo arroto que ressoa no latifúndio.
É este o poder dos céus. Além disso, note-se, a história repete-se muito. Estão os homens na cabana, derrubados de fadiga, vestidos, uns dormem, outros não podem, e pelas frinchas das canas que fazem as paredes entra uma claridade nunca vista, a manhã ainda vem longe, manhã não é, sai um deles fora e fica tolhido de temor, que todo o céu é um chuveiro de estrelas, caindo como lampiões, e a terra está clara como não a faz nenhum luar. Vêm todos ver, há quem se assuste de medo verdadeiro, e as estrelas descem silenciosamente, a terra vaia acabar, ou enfim começar, já não é sem tempo. Diz um com fama de sábio: movimentos nos astros, movimentos na terra. Estão muito juntos, olham para cima, com as gorjas esticadas, e recolhem na cara suja a poeira luminosa das estrelas cadentes, chuva incomparável que deixa a terra com uma sede diferente e maior.

E um maltês meio tonto que no dia seguinte ali passou, garantiu, por alma da própria mãe ainda viva, que aqueles celestes sinais anunciavam que numa malhada em ruínas, a três léguas dali, tinha nascido, mas doutra mãe, e provavelmente não virgem, uma criança que só não seria Jesus Cristo se não a baptizassem com esse nome. Ninguém acreditou, e graças a este cepticismo se viu facilitada a tarefa do padre Agamedes que no domingo seguinte, na igreja, repleta e ansiosa fora do costume, facilmente zombou dos parvos que julgam que Jesus Cristo vai voltar à terra assim sem mais nem menos. Para dizer o que ele diria cá estou eu que sou padre, tenho ordens e instrução, e estou mandatado pela santa madre igreja católica apostólica romana, entenderam todos, ou querem que lhes abra ouvido no alto da cabeça?... (Pág.80)

Chega o sábado e trás a féria, mas tão mesquinha ela é que não se vê nem sabe como aviar o farnel para a semana seguinte, arrepia-se uma pessoa mesmo não estando frio. Ia a mulher ao merceeiro e requeria: faz favor, fie-me lá o resto do avio, porque esta semana foi ruim por causa do mau tempo. Ou então dizia a mesma coisa por outras palavras, começando da mesma maneira; faz favor, fie-me lá o resto do avio porque esta semana o meu marido não ganhou nada por não haver trabalho. Ou ainda, pondo de vergonha os olhos no balcão, como quem não tem outra moeda com que pagar: senhor, o meu marido para o Verão já ganhará mais ordenado, depois faz contas consigo e paga-lhe o atrasado. E o merceeiro, batendo com o punho na costaneira (lombo), respondia: essa conversa já eu ouço há muito tempo, depois passa o Verão e fica cá o cão a ladrar à mesma, as dívidas são cães, tem graça esta, quem teria sido o primeiro a lembrar-se de tal, isto é um povo de invenções miúdas e necessitadas, imagine-se o rol do merceeiro ou do padeiro, ali escrito em grossos números a lápis, tanto aquele, tanto este, um cachorro pequeno, todo felpa, pode crescer, e esta fera, de dentuça como lobo, dívida grossa já do passado ano. Ou paga, ou corto-lhe o fiado. Mas os meus filhos têm fome, e as doenças, o meu homem sem trabalho, não temos donde nos venha. Quero lá saber, só leva depois de pagar. Ladram por esta terra os cães, ouvimo-los às portas, vêm atrás de quem não pagou, mordem-lhe nas canelas, mordem-lhe na alma, e o merceeiro vem à rua e diz para quem o quer ouvir. Diga lá ao seu marido, o resto já se sabe. Há quem espreite pelos postigos para ver quem é da vergonha, são crueldades de pobre, hoje tu, amanhã eu, não se pode levar a mal… (Pág.82)


(Extracto do Livro «Levantado do Chão» de José Saramago - 1980)

Pedro Lembrando Inês


Em quem pensar, agora, senão em ti?

Tu, que me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a manhã da minha noite.
É verdade que te podia dizer:"Como é mais fácil deixar que as coisas não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos apenas dentro de nós próprios?"


Mas ensinaste-me a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou, até sermos um apenas no amor que nos une, contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor: ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo esse que mal corria quando por ele passámos, subindo a margem em que descobri o sentido de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo que o tempo nos rouba.

Como gosto, meu amor, de chegar antes de ti para te ver chegar: com a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água fresca que eu bebo, com esta sede que não passa.

Tu: a primavera luminosa da minha expectativa, a mais certa certeza de que gosto de ti, como gostas de mim, até ao fundo do mundo que me deste.


NUNO JÚDICE in Pedro Lembrando Inês

Foto de Carla Salgueiro