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Pensamentos do Padre Américo
« É necessário que o mundo não pasme do que me dão..Mas,sim, que se aflija com o que me falta. É só a fome e sede de Justiça que eu tenho, que me leva... a mostrar a minha chapa de mendigo, só isso »
« Ai se tu soubesses como é lindo o Evangelho dos pobres...Se tu tivesses a experiência estupenda que este Evangelho tem...os montes caminhariam à tua frente e tu, silencioso, com a chave do mundo na mão, cantarias vitória...» - http://casadogaiato.no.sapo.pt/
« Ai se tu soubesses como é lindo o Evangelho dos pobres...Se tu tivesses a experiência estupenda que este Evangelho tem...os montes caminhariam à tua frente e tu, silencioso, com a chave do mundo na mão, cantarias vitória...» - http://casadogaiato.no.sapo.pt/
Já lá vão 65 anos quando, numa tarde amena de Verão, bati ao portão da jovem Casa do Gaiato, ainda a funcionar nas instalações da antiga Casa Pia, em Paço de Sousa.
«Pai» Américo não estava, e o «Tiroliro», porteiro de então, aconselhou-me a voltar...
Eis como «Pai» Américo escreveu n' O Gaiato a minha história:
«Em um destes últimos dias, veio dar à nossa porta um rapaz abandonado, de 15 anos de idade. Vinha soberanamente andrajoso. Trazia 12 tostões de esmolas. Pediu de comer.
Tinha estado de véspera e fora-se embora à noitinha por não haver sido escutado, tendo dormido debaixo das estrelas, como ao depois confessara. Havia no semblante do nosso rapaz, sinal de quem estava afeito à vida em comunidade: - «Eu já andei num colégio» - disse.
Subimos a escadaria. Mandei sentar. Quis saber. Entrara aos 9 anos para um asilo, órfão de mãe. Entrementes perde o pai. Aos 14, é despedido por virtude dos estatutos.
Vagueou sozinho nas ruas do Porto, sem asas para voar. Procura o seu elemento: - família, amigos, lareira. Ninguém!
É «um exposto sem medalha». Madastra, fora a «letra da regra»; madastra a lei do mundo que o ignora. «Estrangeiro na Pátria», em demanda do que é seu! Oh mundo, acorda que já é tempo!
Ficou em nossa Casa. Chamou-se o roupeiro que o vestiu, mai-lo cozinheiro que lhe deu de comer. É o mais nobre programa que no mundo se conhece: dar de comer a quem tem fome e vestir os nus. É a matéria certa do tribunal de contas, quando o Justo Juiz as vier tomar a cada mortal!
O pequenino condenado ao desprezo, agora no que é seu, parece outro. Era o tempo das colheitas. Dezenas dos nossos, passam para oe celeiros com feixes de abundância, a riscar o espaço com gestos de alegria.
Ele olha, sorri, quer ser camarada: «Nós tínhamos uma quinta mas não era assim; eram criados».
Entrou no regimento. Formou na linha dos trabalhos. Começa a achar gosto.
- Ah! Nós lá não era isto.
- Então que fazias tu?
- Nós tínhamos aula e íamos òs enterros!»
Aqui encontrei o «meu elemento», no dizer de «Pai» Américo. Encontrei uma família, amigos, uma lareira.
Depois, constituí a minha própria família e, ao longo destas dezenas de anos, depois de ter sido copeiro, do campo, e aprendido a profissão de tipógrafo, colaborei no primeiro número d' O GAIATO impresso na nossa tipografia, em Paço de Sousa, na sua composição e paginação.
Tendo adoecido, «Pai» Américo colocou-me como ajudante do Júlio Mendes - chefe de tipografia. Mais tarde transitei para a Administração do nosso jornal, onde ainda hoje me ocupo.
Tenho presente a partida de «Pai» Américo para o Céu. Também a tristeza que pairou em todas as Casas do Gaiato, ou melhor, em toda a Obra da Rua, com a pedagogia que orienta a sua educação a ser posta em causa - a comunicação social foi lesta e criou um escarcéu terrível...
Tudo passou, e quem de direito, arquivou. Esta tribulação a que sujeitaram a Obra leva-me a dizer: «Olhai e vede como Deus é bom!»
Agora, passados tempos, a Obra da Rua foi contemplada com o Prémio da Educação 2009, pela Fundação Gulbenkian. E cá está como a imprensa «reconheceu» este prémio, calando-se e ficando queda e muda.
Dizer-vos como fiquei feliz, não sei e não tenho palavras. Alguém viu, à Luz do Espírito Santo, como as Casas do Gaiato tentam fazer de cada rapaz um homem.
Graças a Deus, a «Pai» Américo e a todos os nossos Padres, que se gastam ao serviço do Pobre e do abandonado, a Casa do Gaiato fez de mim um homem e um ser útil à sociedade.
Bem-hajam, pois, e até breve.
Manuel Pinto in «O GAIATO» Nº 1709 de 12 de Setembro de 2009
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