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O Velho Continente
Qual é a situação na Europa? Actualmente, atingindo apenas 400 milhões de habitantes, já não é senão uma pequena península de ricos num oceano de pobres. Mas esta península está, a partir de agora, cada vez mais povoada de velhos!
Para o demógrafo, uma população envelhece quando a proporção dos que têm mais de 60 anos aumenta no seio da população global, e simultaneamente a relação entre o número de jovens e o das pessoas com mais de 60 anos cresce igualmente. Verificamos que 60 anos é a idade mágica e «emblemática», que define a passagem sem dor para a categoria das «pessoas de idade».
O Envelhecimento em Todos os seus Estádios
Da Natureza à Cultura
Para o biólogo, o envelhecimento é um fenómeno natural, universal e necessário, e o homem envelhece do mesmo modo que o animal. Mas será que o homem, neste ponto, não difere verdadeiramente dos outros animais?
Não podemos assim limitarmo-nos aos aspectos fisiológicos para estudar o envelhecimento humano. É preciso integrar nele todas as alterações que não são de origem biológica e que surgem ao longo do tempo.
Numerosos factores estranhos à espécie e à idade podem intervir neste envelhecimento. Citemos a título de exemplo o que resulta do acaso ou do acidente. Não se envelhece da mesma maneira se se fica paralisado aos 30 anos na sequência de um acidente rodoviário ou se se conserva o uso dos seus quatro membros. As mudanças de vida que provêm da acção individual têm igualmente um papel a desempenhar no envelhecimento.
Todos os acontecimentos de uma vida, quer sejam históricos, políticos, económicos ou tecnológicos, influenciarão e orientarão o seu desenrolar.
Tendo em conta todos estes elementos, se retomarmos a análise deste fenómeno, uma das primeiras constatações é a seguinte: o envelhecimento é diferencial. O que significa isto? Simplesmente que cada um de nós envelhece de um modo particular, diferente do modo dos outros.
As diferenças aparecem segundo a geografia: não se envelhece da mesma maneira nos pólos e no equador, à beira-mar e na montanha; segundo o nível económico do País: não há nada em comum entre envelhecer num País pobre e um País rico, um País industrializado e um País agrícola; segundo a cultura: o estatuto, dito de outro modo o lugar e o papel reconhecidos à pessoa de idade diferem notavelmente de uma sociedade para outra; segundo o sexo e a classe social à qual se pertence, etc.
Quaisquer que sejam os países, o século e a cultura às quais nos refiramos, a velhice é um mundo em si, com os seus valores, as suas alegrias e os seus sofrimentos.
Teremos a Idade das Nossas Artérias?
De modo ainda mais preciso e individual, o nosso organismo envelhece de modo diferencial; podemos ter um sistema digestivo de 40 anos, e um aparelho circulatório de 80; dito de outro modo e mais banalmente, o estômago de um indivíduo jovem e pernas de velhote. Refinamento supremo, podemos dispor de uma perna de 40 anos e de outra de 80!
Envelhecemos organicamente «na desordem» e sem nenhuma harmonia. Isto leva-nos a verificar que a noção de idade não tem grande sentido, e que é muito aventuroso pretender que tal pessoa é velha em função da sua data de nascimento; porque enfim a que nos referimos para o afirmar? À pernas pouco firmes, ou ao coração que continua sólido apesar dos anos?
A única coisa que podemos permitir-nos avançar é isto: passados os 60 anos, restam menos anos para viver do que anos já vividos.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) esforçou-se por enquadrar e definir as diferentes fases da velhice classificando as idades: idade média de 45 a 59 anos; idade madura dos 60 aos 79 anos; idade avançada dos 80 aos 89 anos; grande idade a partir dos 89 anos.
Qualquer que seja a terminologia utilizada, o grupo das pessoas de idade é um grupo social muito vasto, sem nenhuma homogeneidade, e onde se encontram gerações que não têm nem a mesma história, nem a mesma experiência de vida, nem os mesmos recursos, nem o mesmo futuro.
O Envelhecimento Intelectual
O envelhecimento intelectual é fonte de grandes inquietações nas pessoas que começam a envelhecer. A doença de Alzheimer vagueia nos espíritos, e os números mais sombrios circulam sobre a perda do número de neurónios que sofremos à medida que envelhecemos.
Podemos dizer desde já, para nos sossegar, que se é verdade que existe de facto uma redução do volume cerebral no decorrer dos anos, este processo é tardio e pouco importante, da ordem dos 2 por cento por cada 10 anos a partir dos 50 anos.
O nosso cérebro dá-nos a posse, não só de um instrumento maravilhoso, mas também de um instrumento muito mais resistente ao envelhecimento do que nos acostumámos a considerar. É preciso que nos convençamos desta verdade: o nosso cérebro só se gasta se não nos servirmos dele!
0 essencial é lembramo-nos sempre que, no domínio intelectual, perde-se pelo não uso e não pelo abuso. O exercício intelectual é indispensável à vida mental, e a sua penúria, a falta de estimulação do pensamento, têm efeitos devastadores, qualquer que seja a idade dos indivíduos.
O estudo dos processos cognitivos nas pessoas idosas é provavelmente mais delicado no que nas faixas etárias menos elevadas, porque o peso dos hábitos, dos constrangimentos, dos condicionamentos, das alienações de origem económica e social é mais importante, tendo em conta o tempo durante o qual este imprimiu a sua marca.
A Dinâmica Psíquica do Envelhecimento
A personalidade do indivíduo está submetida no decurso da idade a uma série de grandes perturbações. Como é que se pode pretender que a pessoa idosa se adapta mal, ou não se adapta de modo nenhum às mudanças, quando o seu meio interno e externo sofre profundas modificações? Para ela, a necessidade absoluta é a de se acomodar, e ela fá-lo.
Uma das consequências destas adaptações é uma modificação em profundidade do ideal do eu, esta instância psíquica com a qual mantemos um diálogo interior, confrontando os nossos actos e as nossas ambições com o ideal que gostaríamos de alcançar. Este ideal constituiu-se em referência a modelos reais (parentes, amigos, professores, celebridades) ou imaginárias (personagens de romances ou de filmes), materiais de um ideal do eu que em princípio não era inacessível.
Um segundo factor molda o psiquismo da pessoa de idade e faz com que sofra uma tensão que se exerce a partir de dois pólos opostos e se desenvolve numa linha de força onde se confundem os aspectos fisiológicos, sociais e afectivos: é o eixo «estreitamento do espaço/distanciamento».
Quando falamos de estreitamento do espaço atribuímos a este último diferentes qualidades. Em primeiro lugar, o espaço motor que se reduz por causa dos atentados em relação à motricidade. Os percursos das pessoas de idade diminuem progressivamente: da travessia da cidade passam à volta ao quarteirão, depois ao vai e vem dentro de casa, para terminar nos poucos passos que separam o cadeirão da cama.
Com a chegada da surdez, o espaço auditivo é atingido; numerosos sons escapam à pessoa de idade, perdem-se. O espaço visual torna-se pouco nítido ,quanto ao espaço espaço mental, o campo coberto pelos interesses intelectuais empobrece, é uma das consequências da perda dos papéis. Enfim, o espaço-tempo encurta-se, implacavelmente; a consciência de «não ter já tempo» esvazia o futuro. De facto, os espaços não somente diminuíram, mas também ficaram desertos. Vêem-se menos coisas; escutam-se menos sons; encontram-se menos pessoas; vive-se num território menos extenso.
O segundo processo em movimento com a idade é o distanciamento. Se retomarmos a nossa enumeração precedente, verificamos que as dificuldades motoras alongam as distâncias: o que estava próximo torna-se longínquo, porque o tempo necessário para o percurso aumenta; o enfraquecimento muscular aumenta os pesos e as coisa tornam-se tão pesadas que renunciamos a manuseá-las; o que está no alto torna-se inacessível. O mundo material afasta-se, foge; temos cada vez menos controlo sobre ele.
O distanciamento fisiológico tem ressonâncias sobre o mental e provoca um distanciamento psíquico e afectivo que atinge igualmente a memória. Esta, que tem dificuldade em registar novas aquisições, encontra com facilidade as recordações de acontecimentos distantes. Podemos mesmo dizer que a velhice é a hora da escolha – o que pode parecer paradoxal -, e é esta escolha que dará aos últimos anos de vida sentido e valor.
Se o indivíduo não conseguir mobilizar energia suficiente para ultrapassar as suas deficiências físicas, ir-se-á refugiar na doença e em maleitas de toda a natureza. Alguns encontram nisso um equilíbrio. O seu tempo é de novo pautado por imperativos (os medicamentos a tomar a horas fixas), é preenchido com contactos sociais (visitas do, ou ao médico, ao oculista, ao farmacêutico, etc) e pode mesmo ser entrecortado por viagens (as curas) se o estado geral o permitir.
Outros, convencidos que a sociedade está em dívida para com eles, vão utilizar os recursos da protecção social. São os especialistas dos cartões de todas as espécies e de todas as cores. Fazem com que todos os seus direitos sejam cumpridos, reivindicam com facilidade e recorrem a todas as concessões sociais que a idade lhes dá acesso. Também eles reencontraram um estatuto e um papel, mas dependentes estreitamente do sistema social.
Os últimos, enfim, preocupam-se com o seu destino. Escolheram prosseguir com o seu desenvolvimento e tornando-se assim autores de si próprios, utilizam a energias psíquica para compensar as perdas, conquistar a autonomia e continuar a ser criadores de cultura até ao último sopro.
Uns e outros encontraram o seu caminho, e não cabe a ninguém prodigalizar-lhes louvores ou censuras.
Uma Nova personagem: a Mulher Idosa
Porquê determo-nos a propósito do envelhecimento feminino? Não por razões de militantismo feminista, mas muito simplesmente porque o seu percurso é profundamente diferente do dos homens. Com efeito, a mulher tem um envelhecimento especial. Experimenta, mais do que o homem, o peso das normas ligadas à idade, é sempre considerada velha mais cedo do que os homens.
É certo que as mulheres sofrem as mesmas transformações corporais do que os seus companheiros: embranquecimento dos cabelos, perda dos dentes; diminuição da capacidade respiratória; surdez, etc, numa palavra tudo o que a idade se encarrega de fazer sofrer ao nosso organismo. No entanto, para além destas semelhanças, as mulheres vivem uma série de acontecimentos que fazem do seu envelhecimento uma aventura e um trajecto particulares.
A mulher de idade tornou-se uma personagem da nossa sociedade porque é a primeira vez na história da humanidade que tantas mulheres desafiam os anos.
A Longevidade
«O mundo dos velhos é um mundo de velhas»
é o primeiro elemento que torna específico o envelhecimento feminino. Nos países industrializados as mulheres têm à nascença uma esperança de vida superior em nove anos, em mediam à dos homens. Procurou-se explicar esta diferença, mas todas as razões evocadas, se esclarecem em parte o fenómeno, não o justificam inteiramente.
Ao nascer, há mais meninos que meninas: cento e cinco para os primeiros e cem para as segundas, mas, à medida que os anos passam, esta diferença diminui, e acaba mesmo por se inverter, na grande idade, conta-se correntemente mais mulheres do que homens. Os responsáveis de estabelecimentos para pessoas de idade são confrontados quotidianamente com esta situação, e um dos ditados próprios da gerontologia é o seguinte: «o mundo dos velhos é um mundo de velhas»!.
O facto está aí, e é preciso reconhecê-lo; as condições de vida não chegam para justificar os anos de vida suplementar acordados ao sexo feminino. Podemos perguntarmo-nos porquê, qual a razão profunda desta mortalidade masculina superior.
A menopausa
A menopausa é um acontecimento importante na vida da mulher. Enfrenta-o em geral sozinha, revelando-se o seu companheiro incapaz de compreender o que quer que seja que se passa com ela.
A menopausa é o fim de um ciclo e, apesar da evolução da ginecologia, dos costumes, do estatuto feminino, pode provocar perturbações físicas e psíquicas. Se a medicina atenua algumas destas perturbações, os estados depressivos que exprimem outros mal-estar, são raramente objecto de um cuidado especial.
A menopausa que liberta definitivamente a mulher dos constrangimentos ligados à maternidade, dá um novo significado ao tempo, e deixa-lhe uma quantidade de energia que não tem o hábito de utilizar para si própria.
Poucas mulheres no século precedente conheceram a menopausa: morriam antes. Hoje em dia, a contracepção, a longevidade, trazem consigo uma redução do tempo de vida consagrado à maternidade. As mulheres não são unicamente mães, daí, talvez, esta tendência para querer fazer delas avós.
Que a menopausa seja vivida como uma libertação ou que provoque uma crise excessiva, atinge de qualquer modo a mulher na força da idade, e informa-a que o seu tempo muda de natureza. Qualquer coisa morre nela; cada célula do seu corpo é disso informada; ei-la entrada na época do «nunca mais»; ela nunca mais terá filhos é um acontecimento de longo alcance psicológico que não pode senão modificar o modo de encarar a sua própria vida.
A Vida Solitária:
«Viúva és, viúva ficarás»
Esta terceira transformação do envelhecimento feminino é uma realidade à qual é difícil escapar. Com efeito, enquanto o viúvo se casa facilmente, a penúria dos homens de idade madura, junto à tendência masculina em interessar-se por uma parceira mais jovem, faz perder à mulher, que se tornou viúva à voltas dos 60 anos, qualquer esperança razoável de vida comum.
«Viúva és, viúva ficarás.» As estatísticas precisam-nos que, se entre os 60 e os 64 anos 21 por cento das mulheres são viúvas, esta percentagem atinge perto de 57 por cento nos 75/79 anos e 83% a partir dos 90 anos.
Contudo, a viuvez não é a única fonte de solidão. O desgaste dos anos faz-se sentir na vida conjugal, e numerosas mulheres, passados os 50 anos, encontram-se num lar de que o cônjuge desertou. Ao número de viúvas é preciso juntar o das divorciadas e das celibatárias, das quais nem todas o serão por gosto. Chega-se então a esta verificação: 33 por cento das mulheres de 75/79 anos e 96 por cento das mais de 90 anos vivem sós.
A penúria monetária é uma outra consequência da solidão feminina. Metade das pessoas idosas e sós vivem com um rendimento inferior ao salário mínimo.
A diferença de idade entre os sexos «em proveito» do homem está de tal modo arreigada nos nossos modelos sociais que uma diferença de dez anos entre um homem e a sua companheira não choca ninguém.
Finalmente, a melhor maneira de remediar estas dificuldades seria que os biólogos encontrassem a maneira de prolongar a vida dos homens. Todos os estudos demonstraram que o casamento «conserva», não somente por causa da sua rede de trocas afectivas, mas também porque permite fazer face mais facilmente às dificuldades materiais, graças, entre outras coisas, aos recursos mais importantes de que dispõe um casal.
Envelhecer... e as Suas Consequências
A Reforma
Os anos que se seguiram ao final da Segunda Guerra Mundial assistiram à emergência de uma nova classe social: os reformados. Esta parte da população não cessa de aumentar por causa do alongamento do tempo de reforma.
Com o contributo do aumento da longevidade, pode-se prever que uma pessoa na pré-reforma passará um terço da sua vida sem actividade profissional.
Dantes trabalhava-se, morria-se, era a lei habitual; viver sem trabalhar era um sonho inacessível antes de 1930.
Fixar numa idade arbitrariamente determinada a paragem de toda a actividade produtiva, não faz senão mascarar, sob o pretexto da natureza (a fadiga devido à idade) o que é um facto de cultura. O indivíduo é assim posto fora do circuito e, na lógica fundada sobre a produção, não é reconhecido quem já não é produtor.
Quais poderão ser as consequências deste afastamento? O vazio social criado pela perda do estatuto profissional provoca uma perturbação do equilíbrio psíquico que necessita de uma nova estruturação da personalidade, a busca de um novo centro de gravidade, de uma nova ancoragem.
No início, o reformado esgotado pelos trabalhos pesados não tinha uma grande esperança de vida; isto é cada vez menos verdade. O reformado está bem de saúde, mesmo muito bem.
Que fazer então? Espontaneamente os reformados procuram ocupar-se e aos poucos interessaram-se por outras actividades para além das lúdicas. Primeiro foram os cuidados consagrados ao corpo com a ginástica da terceira idade, depois, como isso não chegava para ocupar o tempo, floresceram as actividades manuais (modelagem, tecelagem, esmalte em cobre, etc), e por fim as actividades intelectuais com as universidades da terceira idade (criadas em França em 1973).
No entanto a saudade da vida profissional importunava numerosos reformados, particularmente os que tinham tido responsabilidades. No meio dos antigos quadros surgiu a ideia de pôr benevolamente os seus conhecimentos e as suas competências ao serviço dos países em vias de desenvolvimento, que não podiam, por não ter os meios, recorrer a peritos.
O trabalho não remunerado nasceu (em França) em 1974, e surgiram diversas associações para assegurar a ligação entre as ofertas dos reformados e as necessidades dos países em questão. Pouco a pouco abriu-se o leque, acolhendo engenheiros, professores, empregados e trabalhadores manuais. Os reformados organizaram assim uma forma de trabalho completamente original, inimaginável há alguns anos.
«Trabalho quando quero; como quero; com quem me convém e sem relação de autoridade», pode o reformado dizer. Qual seria o utopista que ousaria imaginar uma tal organização de trabalho!
Nem todos os reformados estão satisfeitos com esta possibilidade que não atinge, evidentemente, senão um número reduzido de indivíduos. Nem toda a gente tem o desejo de partir para o terceiro mundo, temendo a falta de conforto, a falta de serviços médicos e as perturbações políticas.
O movimento não tardou a ultrapassar o domínio do auxílio ao terceiro mundo. As iniciativas dos reformados investiram o território francês, no seio de redes de parentesco e de proximidade, a favor de populações com dificuldades: desempregados, deficientes, crianças.
A Família
Com uma esperança de vida de 45 anos no princípio do nosso século, um filho perdia ou o pai ou a mãe, em média, com a idade de 14 anos. Agora é aos 44 anos que se dá este primeiro luto e os orfanatos foram substituídos por lares de reformados. Temos todas as razões para nos alegrar com isto. Certamente que sempre existiram pessoas idosas e mesmo muito idosas, mas eram minoritárias.
O envelhecimento da população levou efectivamente a uma mudança na estrutura das famílias. Passou-se de uma «família horizontal», quer dizer com gerações que se sucedem, para uma «família vertical», na qual as gerações coexistem e se empilham.
Foram poucas as pessoas nascidas no primeiro quarto do nosso século, que conheceram os seus avós. Estes pertenciam, lembremo-nos, a gerações que desapareciam entre os 45 e os 50 anos, e as famílias com três gerações eram raras e fugazes; hoje em dia as que contam quatro estão em vias de se tornarem correntes. As crianças, quando nascem, têm quase todas avós, e numerosos anos para viver em conjunto. Certas crianças muito novas têm mesmo os bisavós (os supervovôs e vovós, como um deles os nomeou) e esta configuração está destinada a manter-se. Começa mesmo a ver-se famílias com cinco gerações. Num inquérito recente, demonstrou-se que aos 59 anos um em cada quatro homens pertencia a uma família de quatro gerações; do lado feminino a proporção é ainda mais importante.
A crise económica imprime também a sua marca transformando as pessoas de 60 e mais anos, em «bengalas da juventude» dos seus próprios filhos chegados aos 40 anos, e que enfrentam o desemprego, e/ou dos seus netos, já jovens adultos que ficam à margem da vida activa. Daí decorre que esta geração pivô esteja ameaçada de naufrágio, sob o peso de encargos, tratando-se aqui de um dos numerosos problemas que a nossa sociedade tem o dever de abordar.
No entanto, se todos estão ameaçados, nem todos são atingidos pelo peso dos anos, e o recurso aos avós tornou-se um recurso das mulheres jovens que trabalham. Numerosas obras tratam da questão; são editados manuais sobre a «arte de ser avós»; são-lhe consagradas emissões. Os avós estão na moda ! As mulheres ocupam facilmente esta nova função, sobretudo se as crianças são bebés. Reencontram as alegrias de acarinhar, repetem a classe e passam de mãe a avó sem grande esforço.
Grandeza e Servidão da Idade
Preparar a Velhice
Qual a responsabilidade das pessoas idosas? Em que campos podem agir? No seu próprio envelhecimento? No seu meio ambiente? No futuro da sociedade?
A consciencialização da importância e da qualidade singular do seu papel, é o único trunfo de que dispõem para deixarem de ser considerados como «objectos incómodos». Que fazer dos vivos? São eles que têm de responder, se responderem.
Prevenção ou Precaução?
O envelhecimento no homem não é somente sofrido; cada qual procura conduzi-lo segundo as normas da sociedade a que pertence, e segundo o seu próprio sistema de valores. Envelhecer é um sistema muito complexo. Para bem o viver, é preciso praticar uma defesa elástica, quer dizer, descobrir os pontos sobre os quais é preferível ceder, a fim de empenhar as suas forças noutro lado; encontrar estratégias de compensação, procurar o que resiste e o que ainda é possível desenvolver, sem esquecer o que é possível adquirir.
Começa-se agora a evitar empregar a noção de «prevenção do envelhecimento», e evoca-se a do «bom envelhecimento». Mas o que é «bem envelhecer»? Existe um modelo de «bem envelhecer»?
Que medidas de precaução será razoável tomar? Elas dizem respeito em primeiro lugar ao arranjo da habitação e à vigilância da saúde, é claro. Para as mulheres, é importante ter tido uma actividade profissional; é igualmente essencial ter ocupações para além do trabalho; mantê-las se já existem, ou encontrá-las; empenhar-se numa nova actividade; enfim, preparar-se para a solidão.
Velhos das Cidades; Velhos dos Campos
Os citadinos não compreendem o que significa para um agricultor o início da reforma. Enquanto um assalariado se limita a abandonar o seu post de trabalho e as relações que lhe estão aferentes, para um agricultor a reforma significa muitas vezes o abandono da casa, e sempre o abandono dos animais. As referências que constituíam a sua vida quotidiana desaparecem de repente.
Um segundo factor agrava a sua situação: o envelhecimento da população. Foi calculado que, num cantão envelhecido – quer dizer onde a população tenha um número superior de pessoas com 75, e mais anos de idade, do que pessoas com menos de 20 anos – a população jovem desse cantão, apesar do seu ardor no trabalho, não pode compensar só assim a deterioração da situação. As escolas fecham, os comerciantes deixam a freguesia, os transportes desaparecem, o médico e o farmacêutico ficam cada vez mais afastados, e o mesmo acontece com os serviços administrativos. Não há mais casamentos e só subsistem os enterros.
(in Livro «Viver Depois dos 6o Anos»)